O post de hoje vai ser meio diarinho, vocês me perdoem. E também nada engraçado.
Ontem a noite minha mãe sofreu um acidente doméstico. Virou uma frigideira de óleo quente em cima da mão enquanto fritava batatinhas sorridentes. Minha irmã me ligou avisando que minha tia já estava levando ela para o Pronto Socorro da UNICAMP, um PS público. Ok, pedi para que ela me avisasse de qualquer notícia que tivesse. Duas horas depois, liguei e ela não havia sido atendida ainda, sofrendo muito, afinal, dor de queimadura é terrível. Meia hora depois, liguei novamente e nada de ser atendida. Peguei meu carro e fui pra lá.
Chegando lá, a visão era de terror. Corredores lotados de gente para ser atendida, sem maca, sem nada. Gente morrendo de dor, amontoados de gente com soro. A sala de medicação, onde estava minha mãe, com pessoas saindo pelo ladrão. Gente com todo tipo possível de doença, lesão, etc. E minha mãe lá, no meio disso tudo, com um sorinho e a mão dentro de um balde d'agua chorando de dor. Eu tive que ser muito forte nessa hora. Busquei o médico plantonista e pedi para que ele liberasse minha mãe, pois eu a levaria pro hospital particular.
Esse momento foi o mais difícil pra mim. Eu estava tirando minha mãe de lá pra levar ela em um lugar melhor, que ela seria muito bem atendida. Mas e todas aquelas pessoas? Gente pobrezinha mesmo, que só tem aquele purgatório pra cuidar delas. Médicos e enfermeiros mal educados, que não gostam do que fazem, ou simplesmente desiludidos ao ter que conviver com aquilo todo dia. O sentimento de impotência tomou conta de mim, eu queria chorar, mas fui forte. Embrulhei o choro. Eu queria levar todo mundo comigo, pra ser atendido decentemente. Mas não podia. Me senti constrangido de avisar minha mãe no meio de todo mundo que eu estava tirando ela de lá pra levar pra um lugar melhor. Só queria sair dali o mais rápido possível.
Bom, levei minha mãe pro Hospital Vera Cruz aqui de Campinas. Chegamos e prontamente atendidos. Não havia ninguém na sala de espera. Já a encaminharam para o consultório do plantonista que já a levou à enfermaria e aplicou uma injeção com medicamento para passar a dor. Logo em seguida colocou soro e deixou minha mãe repousando. Tudo isso não demorou mais que 10 minutos. Tempo de eu ir estacionar o carro em algum lugar próximo.
Fim do soro, hidrataram a mão da minha mãe com pomada e enfaixaram. Graças a Deus foi só uma queimadura de primeiro grau. Todos os atendentes, enfermeiros e médicos e seguranças com um sorriso no rosto, tratando os pacientes com carinho e dedicação.
Depois dizem que o dinheiro não compra felicidade.
Minha mãe já está melhor. Coisa de dois, três dias já vai estar ótima. Mas minha cabeça ainda está naquelas pessoas que estavam no PS da Unicamp, sem oportunidade, e eu sem ter o que fazer. No máximo posso tentar escolher melhor os governantes desse país. Mas juro que não sei se tenho mais esperanças de ver esse tipo de coisa melhorar. Ao menos não na minha geração e dos meus futuros filhos. Se esperança é a última que morre, a minha está em coma, e em um hospital público. Ou seja: centenciada à morte.
Ontem a noite minha mãe sofreu um acidente doméstico. Virou uma frigideira de óleo quente em cima da mão enquanto fritava batatinhas sorridentes. Minha irmã me ligou avisando que minha tia já estava levando ela para o Pronto Socorro da UNICAMP, um PS público. Ok, pedi para que ela me avisasse de qualquer notícia que tivesse. Duas horas depois, liguei e ela não havia sido atendida ainda, sofrendo muito, afinal, dor de queimadura é terrível. Meia hora depois, liguei novamente e nada de ser atendida. Peguei meu carro e fui pra lá.
Chegando lá, a visão era de terror. Corredores lotados de gente para ser atendida, sem maca, sem nada. Gente morrendo de dor, amontoados de gente com soro. A sala de medicação, onde estava minha mãe, com pessoas saindo pelo ladrão. Gente com todo tipo possível de doença, lesão, etc. E minha mãe lá, no meio disso tudo, com um sorinho e a mão dentro de um balde d'agua chorando de dor. Eu tive que ser muito forte nessa hora. Busquei o médico plantonista e pedi para que ele liberasse minha mãe, pois eu a levaria pro hospital particular.
Esse momento foi o mais difícil pra mim. Eu estava tirando minha mãe de lá pra levar ela em um lugar melhor, que ela seria muito bem atendida. Mas e todas aquelas pessoas? Gente pobrezinha mesmo, que só tem aquele purgatório pra cuidar delas. Médicos e enfermeiros mal educados, que não gostam do que fazem, ou simplesmente desiludidos ao ter que conviver com aquilo todo dia. O sentimento de impotência tomou conta de mim, eu queria chorar, mas fui forte. Embrulhei o choro. Eu queria levar todo mundo comigo, pra ser atendido decentemente. Mas não podia. Me senti constrangido de avisar minha mãe no meio de todo mundo que eu estava tirando ela de lá pra levar pra um lugar melhor. Só queria sair dali o mais rápido possível.
Bom, levei minha mãe pro Hospital Vera Cruz aqui de Campinas. Chegamos e prontamente atendidos. Não havia ninguém na sala de espera. Já a encaminharam para o consultório do plantonista que já a levou à enfermaria e aplicou uma injeção com medicamento para passar a dor. Logo em seguida colocou soro e deixou minha mãe repousando. Tudo isso não demorou mais que 10 minutos. Tempo de eu ir estacionar o carro em algum lugar próximo.
Fim do soro, hidrataram a mão da minha mãe com pomada e enfaixaram. Graças a Deus foi só uma queimadura de primeiro grau. Todos os atendentes, enfermeiros e médicos e seguranças com um sorriso no rosto, tratando os pacientes com carinho e dedicação.
Depois dizem que o dinheiro não compra felicidade.
Minha mãe já está melhor. Coisa de dois, três dias já vai estar ótima. Mas minha cabeça ainda está naquelas pessoas que estavam no PS da Unicamp, sem oportunidade, e eu sem ter o que fazer. No máximo posso tentar escolher melhor os governantes desse país. Mas juro que não sei se tenho mais esperanças de ver esse tipo de coisa melhorar. Ao menos não na minha geração e dos meus futuros filhos. Se esperança é a última que morre, a minha está em coma, e em um hospital público. Ou seja: centenciada à morte.
Bruno, eu como freguesa do Hospital das Clínicas da Unicamp, compartilho da sua indignação.
ResponderExcluirUma coisa que poucas pessoas sabem é que o HC não foi feito para atender emergências como as que acontecem esporádicamente comigo e como aconteceu ontem com a sua mãe, o que é mais vergonhoso ainda. Por isso toda aquela falta de estrutura e aquele amontoado de pessoas sofrendo que você viu, e que não preciso imaginar já que visualizei essa cena várias vezes.
Eu, como pessoa que não tem outra opção de atendimento médico nessa cidade torço muito, mas muito mesmo, que eu não precise utilizar aqueles serviços novamente e nem ficar esperando por 2 horas naquela salinha assistindo mais uma sessão de descarrego.
Beijos
Melhoras para sua mãe.
Em primeiro lugar, melhoras para a sua mãe. Espero que ela se recupere logo.
ResponderExcluirE segundo, infelizmente não há esperanças. Ou você tem dinheiro e será bem atendido em qualquer lugar ou não tem dinheiro e será tratado como um lixo.
Abraços e boa sorte
queridon,
ResponderExcluirabraço enorme pra sua mamis.
compartilho esses pensamentos sobre a realidade e os inconfortos sociais que ela nos apresenta,
mas tudo pode mudar se cada um decide fazer algo a respeito.nesse dia o que você pode ajudar a sua mamae.
sou das pessoas que acredita que sempre há esperança no balanço das horas tudo pode mudar mesmo que sejam assuntos difíceis.
beijones
Bruno
ResponderExcluirEu queria te dar um lindo sorriso e dizer pra ter esperança nas coisas, não deixar morrer o sentimento de luta, de garra...
Mas te digo mais, isso que viu é o mínimo, são coisas que acontecem todos os dias, ja pensou nisso?
Os caras colocando dinheiro na meia, enquanto senhores são empacotados nas filas, tratados como gado.
O que podemos fazer?
Se o poder está nas mãos de um bando de merdas?
Ou choramos, ou rezamos, ou maquiamos um pouco a dor do que está a nosso alcance.
Estou tentando dar um jeito de virar maquiadora, dar um jeito de ajudar superficialmente problemas que não são meus, mas o resto, assistiremos assim, sentados num sofá, com uma lata de coca, a podridão humana.
A saúde pública é um vergonha e um verdadeiro lixo. Paguei mais de 10 anos de CPMF que, teoricamente, seriam encaminhados para a saúde pública, mas os velhinos e as grávidas continuaram morrendo nas filas dos hospitais públicos e nas mãos daqueles açougueiros que muitas vezes nem gostam do que fazem. O salário é baixo? procurem outra coisa para fazer ou se conformem!!! Eu também gostaria de ganhar melhor, como todo mundo.
ResponderExcluirTer plano de saúde também já não é grande coisa, pois eles vivem dificultando sua vida em qualquer procedimento solicitado.
Se vc quiser um atendimento decente tem um plano de saúde top, que é caríssimo ou bancar tudo do própio bolso.
Desejos melhoras p/ sua mãe!!!
Abs