Diários DIP - A Corujinha

Já era comum na oficina de paredes altas e janelas largas no topo delas. Os passarinhos entravam pela grande porta e depois não sabiam por onde sair. Cabeceavam os vidros das janelas fechadas até encontrar novamente a porta.

O chão, sempre repleto do resultado da comilança passarinhesca, era lavado todo dia pela manhã.

Uma corujinha, filhote, não teve a sorte dos outros que encontraram a saída. Entrou pela porta, voou confiante rumo a uma das janelas e... lá estava ela, estatelada no chão. A cabeçada foi forte. Ela despencou cerca de dez metros de altura até encontrar uma bancada, onde trabalhava o Seu João.

Na queda ela se machucou. Estava só desmaiada, mas com uma asa quebrada.

O pequeno ser de hábitos noturnos tornou-se então atração dos seres diurnos. Todos os funcionários da oficina, cerca de quarenta ou cinquenta trabalhadores se comoveram com a pobre corujinha, e decidiram cuidar do animalzinho até esse ter condições de vôo novamente.

Seu João imobilizou a asinha quebrada. Ajeitou uma caixinha com estopa em uma das gavetas de sua bancada. E lá colocou a corujinha.

Era o ser mais paparicado da oficina. Era bem tratada, bem cuidada. Só ficava trancada na gaveta durante a noite.

O tempo foi passando e a corujinha já passava despercebida pela maioria. Mas Seu João a cuidava. Ela já estava ficando forte novamente. Quase pronta para voltar à liberdade.

Foi então que Seu João saiu de férias.
Foi então que Seu João trancou a gaveta por trinta dias.

E foi assim que a corujinha alcançou o céu novamente. À sua maneira.


2 comentários:

  1. se não fosse trágico, seria cômico.
    pobre corujinha...

    eu gosto de corujas. Gosto mesmo.

    beijo, B.

    ResponderExcluir
  2. Tenho um querido amigo, meu ex-professor de faculdade, que me chamava de corujinha branca. mas não quero ir pro céu, só se for em outro sentido. se for assim, eu quero. com força! mas com liberdade, sempre!

    Beijão, Bruninho!

    ResponderExcluir