Amaral Eterno

Por Roniel Felipe

Uns diziam que era amor. Outros, mais racionais e de coração seco, afirmavam que era puro marketing. Dizima ser interesse de maria chuteira o relacionamento entre a Bela e a Fera.
A moça era uma japonesa estonteante, se não me engano, Juliana era o nome. Linda de morrer, parava avenidas com seu sorriso. A fera era um negro humilde. Mais um brasileiro comum, em um país no qual negros não são símbolos de beleza, ainda mais aqueles que não atendem o padrão de beleza imposto pela mídia. Nunca vi um modelo caolho, baixinho e beiçudo. Por outro lado, o rapaz que começou sua vida no futebol como atacante no modesto Capivari, era leve como uma pena, e no meio campo do vitorioso Palmeiras da década de 90, tornou-se rei.

Passar o rodo na japa foi apenas umas das façanhas de Alexandre da Silva Mariano, ou simplesmente Amaral, uma das mais simpáticas e saudosas figuras de um futebol que parece não voltar mais. Ex-coveiro, o negro de baixa estatura, mas de fôlego impressionante, protagonizou momentos hilários por onde passou. A baixa escolaridade, comum entre os boleiros, lhe rendeu a alcunha de bixo do mato. Na África, quando questionado por um jornalista sobre o Apartheid, afirmou que era um jogador de respeito e o marcaria em cima. Em Portugal, pediu um Durex para uma funcionária do Benfica, sem saber que na terrinha a palavra significa preservativo. Em sua estadia em Belém, com os colegas palestrinos, Amaral obteve a liberação para visitar o “Forró do Gerson”, em sua concepção, um fogoso risca-faca no qual comemoraria a vitória de um jogo ao lado de seus amigos. Com a autorização obtida, o volante que havia localizado o recinto assim que chegou a cidade, partiu de táxi para o local, junto de outros jogadores. Chegando lá, havia a placa que anunciava a produção e venda de forros de gesso.

Hilário, sim. Tanto que Amaral está para lançar uma coletânea de suas deliciosas gafes. Um dia desses encontrei o figura em um pagodão em Indaituba. Balanco é o nome do local. O cara viajou o mundo, esteve em lugares fantásticos, vivenciou o glamour de uma seleção brasileira, mas mesmo assim, estava vestido humildemente, usando um sapato estilo mocassim com aquelas franjas estranhas. Eu mesmo já usei um desses e me vi em Amaral. Trocamos poucas palavras, eu nem era jornalista naquela época, mas torci para que o “O cabeça-de-área de Notre Dame” fosse mais longe. Recentemente, fui surpreendido com uma boa nova. Amaral agora está na Austrália, terra dos coálas, cangurús e dos bumerangues. Aos 35 anos de idade, o incansável marcador assinou com o modesto Perth Glory.

Em sua primeira apresentação, Amaral já foi eleito o melhor em campo no empate de 3x3 de sua nova equipe com o Newscastle Jetts, atual campeão australiano. Na Austrália, Amaral recebeu a camisa 10, o número sagrado do manto de Pelé, Ronaldinho, Rivelino e Zidane (que sentiu a pegada de Amaral, em um jogo entre Juventus e Fiorentina. Zizu perdeu os restos do cabelo nesse jogo). No entanto, diferente de todos esses nomes, conhecidos pelo fino trato coma pelota, Amaral tem algo a mais. Uma “coisa” que faz qualquer torcedor do Brasil (e por que não do mundo) a admirá-lo, apesar dele terlevado um elástico inesquecível do Romário, além de tantas outras bizarrices. Porém Amaral ainda é dez.

Se ganhei ou se perdi, importante as emoções que eu vivi.

Dez em humildade, dez em simpatia e dez em perserverança. Na minha seleção dos sonhos, Amaral tem vaga garantida enquanto Beckham seria massagista. Ser jogador não é fácil, mas ser um coveiro fadado ao fracasso e chegar no cume do tortuoso pico do futebol, não é para qualquer um (assim como traçar aquela japa lindona). Creio que no fundo, o mundo seria melhor se tivéssemos mais Amarais, e que Zizu não seria tão bom se Amaral estivesse em campo em 1998 e 2006. Por isso eu digo, Amaral é dez, o resto é invenção da mídia.

Ti mininu lindu!
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6 comentários:

  1. tu tá com correspondentes agora?

    haha

    Bela matéria, adorava os causos que ele contava no extinto programa da Record "7 no pique" com Wanderley Nogueira. Bom frisar que antes de jogador de futebol ele era coveiro!

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  2. Amaral é eterno. Mais eterno que Pelé, tão eterno quanto Moon-Ha. Gênio que tem vaga no meu time dos pesadelos (faz parceria com o não menos feio Oleúde, o eterno Capitão da Lusa).

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  3. caraca!
    outro dia tava me perguntando e perguntando pro meu irmão por onde andaria amaral...

    bom texto!
    parabéns pro correspondente e pro blog!

    ;)

    beijo.

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  4. Uma vez liberto da escravidão que é se incomodar com o que os outros vão pensar, o homem consegue qualquer coisa, chega à picos que jamais imaginou.

    Tem a historinha do falcão que pensou que era galinha, ao nascer no meio deles.

    Bala Salgada
    www.bsalgada.blogspot.com

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  5. Amaral é sinistro! Deixou saudades no Vascão, também. Depois dele, não tivemos nenhum cabeça-de-área decente.
    Quantas vezes, 40 do segundo tempo, todo mundo morto, o cara dava um pique de 60, 70 metros pra recuperar uma jogada... e com o jogo ganho!
    A Flamídia criou o Deus da Raça, Rondinelli, mas foi Amaral quem mais se fez digno de tal alcunha.

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  6. Amaral! Faz tempo, hein?
    Lembro que ele tinha uma noiva LINDA, japonesa, e sempre estavam tirando uma com eles - pq vc tá com esse cidadão feio?

    Mas um bom jogador.

    E legal postar uma foto do Roberto Carlos quando era menos "inchado".

    Bjs!

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